QUERO AGARRAR O PÔR-DO-SOL

Quero agarrar esse momento
Parar o decurso do tempo
O desconhecido
O imortal!

Quero beber essa paz
Consciente e de bom grado
Inalar o aroma do ocaso
Para um dia saber voltar...

Recordações?
Memórias?
Revivências?

O Perfume doce que as flores libertam ao adormecer
A Música suave que os deuses compõem para o acarinhar
A Magia eterna que nos olhos guardo
Em cores que irão dourar o meu manto

Quando regressar em êxtase de asas alvas
Em singular existência que desejo invulgar
Sem dor, logros, segredos, ilusões, solidão
Em nova realidade em que a esperança impere

Voltando a amar a humanidade
A cidade que morreu e as árvores que ficaram...
E finalmente acreditando!

CASCATA DE EMOÇÕES

Foto: Scot Westlake “Black Horse”

Luz da floresta que me banha
Brilho de fogo dançando nos meus braços
Raios de cor reflectindo nos meus olhos

No escuro dos dias cinzentos
Na solidão das noites longas
Um jorro de luz colorida

Sol que aquece e anima
Clarão mágico que do alto emana
Esperança que ilumina e exalta

Quando o Sol se deita e a floresta dorme branda, a Lua vem de mansinho confidenciar cumplicidades...

TRANSPARENTES

Cingidos em nossos corpos transparentes
Evocamos vidas que se cruzaram
Memórias de passados presentes
Lembranças de outros sóis poentes
Diferenças que nos completaram.

Entrega absoluta e envolvente
Poderosa energia singular
Presença por vezes ausente
Desse corpo transparente
Neste incessante lutar.

Amor imenso
Fervor intenso

Vivências que numa outra qualquer existência já se encontraram
Quando o olhar cúmplice denuncia a memória de já ter olhado aquele mar
E bebido aquele pôr-do-sol...
... naqueles braços!

Choramos ao reviver esses momentos
Transparentes... eternos!

FLUTUANDO

"Does anybody know what we are living for?" - Queen

Como uma folha que flutua
Ao sabor da corrente
Nos braços de um rio
A ver o Mundo a passar...

Em absoluta união com a natureza
Em especial solidão
Percebendo amiúde o conforto do isolamento
E sorrindo feliz ao perceber outra folha
Levitando também à tona de água
Brincando e dançando
Para de novo se afastarem
E seguirem boiando
Em caminhos paralelos
Em direcção ao mar.

Água que de dia espelha o Sol abrasador
Água que de noite reflecte a Lua conselheira
Numa eterna dança com o fulgor das estrelas
A ver o Mundo a passar...

Abaixo da superfície sorvedouros girando
Em espiral num eterno sem-fim
Onde no limite se libertarão
todas as mãos
todos os desejos
todos os medos
todas as vontades
todas as dúvidas
todos os beijos
todos os sonhos
Que no caminho se oprimiram
Que no percurso não floriram.

No limite em que alcançar por fim o mar
Cansada de lutar boiando
E finalmente se afogar no azul profundo...

SONHEI A MINHA REALIDADE

Dois em Um
Envoltos no Todo
Energias que interagem
Mundos que se interpenetram...

Sonhei
Com marés pujantes de prazer que me afogam
Enquanto o Todo me leva às profundezas.
Paz perfeita, Amor perfeito
Como um fio que desenha os motivos que escolhemos

Para O Nosso Mundo!

Sonhei
Com lugares que falam com voz divina
Em encontros que cada dia nos ensinam sempre mais
Em novas formas de olhar o que já vimos
Em novos significados dos Mundos que descobrimos.

Sonhei
Com opostos dependentes
Em Equilíbrio
Com a Dualidade que não existe sem duas partes
Com a Eternidade!

Como é que se diz?
Sonhei a Minha Realidade,
A Vida que me vive a mim.

CHÃO DE FOGO

Piso solo incandescente
Caminho ardente que custa e dói
Prossigo segura e firme
Olho em frente e resisto
Dói-me porque estou viva!

Ao longe o lago azul
Frescura serena e pura
Comigo o desejo de o alcançar
Nele me refrescar
Nele saciar a minha sede
Junto dele repousar por fim...

Mas será ele real?
Sublime como parece?
Secará antes de eu chegar?
Melhor a esperança vã e sonhadora
Que a realidade dura e enganosa.

Caminho então indefinidamente
Consciente de que o lago estará lá
Mas não à minha espera...